segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Eu queria estra em Grumari (de Renata Mizrahi)

Alexandre está falando com seu analista. No consultório tem uma janela com vista para uma outra janela em que Alexandre vê tudo o que acontece. Volta e meia ele se dispersa com o que vê na janela. O analista está anotando tudo o que Alexandre faz e fala.

Alexandre: O elevador do meu prédio é bem pequeno. Daqueles antigos. Com porta de ferro. Sempre que eu entro no elevador do meu prédio eu conto os segundos pra sair. Eu sou um pouco caustrofóbico. Então. Eu estava no elevador, mas nesse dia eu estava bem. Eu estava bem mesmo. Muito bem. (tempo) Ih! Tem um garotinho ali em frente. Ali na janela.

O analista não olha e continua anotando.

Alexandre: Ele deve ter uns cinco anos. Ta todo arrumadinho. Deve tá indo pra alguma festa. Que gracinha, ta olhando pela janela. Será que ele tá olhando pra cá?

Silêncio

Alexandre: Bom, eu tava num bom dia, sabe? Sabe aqueles dias que você acorda bem por nada? Assim: hoje eu acordei bem. Sem nenhum motivo maior. Simplesmente bem. (tempo) Ele ta olhando pra cá, dá pra ver. Ele tá sorrindo. Que gracinha.SilêncioAlexandre: Bom, foi quando ele, o meu vizinho, me abordou. No elevador. Ih! Ele tá com janelinha, os dentes tem janelinha. Tão caindo os dentinhos... Que gracinha, ele deve ter o quê? Cinco, seis, anos? Então ele falou comigo, o meu vizinho. Dentro daquele elevador. Ah, esqueci de dizer que o elevador do meu prédio é lento. Bem lento. Antigo e lento. Sabe que eu nunca tinha reparado no meu vizinho? Eu moro no meu prédio há oito anos e nunca tinha reparado no meu vizinho. Já aconteceu isso com você? De nunca ter reparado em alguém durante oito anos? (tempo) Ó, ó! Tem alguém chegando, deve ser a mãe dele, ó! Ela foi pra janela também. Ih! Ela ta rindo junto com ele, que gracinha! Tem um monte de buraquinho na boquinha dele. Que gracinha.

Silêncio. Ele volta a falar bem rápido

Alexandre: Bom, então. Ele começou a falar no elevador, a gente mora no nono andar, ele começou a falar enquanto o elevador descia para o térreo, elevador antigo e lento, ele foi me contando uma história que ele comprou o apartamento dele com um tal dinheiro e que se eu quisesse chegar a ter o meu próprio apartamento, ele sabia que eu pagava aluguel, eu nunca havia reparado nele e ele sabia que eu pagava aluguel, enfim, era só eu pagar cem reais. Que com cem reais eu poderia ganhar novecentos reais se eu entrasse numa rede de vendas e ganhasse uma porcentagem, e então eu pensei que novecentos reais não seriam uma má idéia já que eu realmente tava precisando e eu só daria cem reais. Cem reais. (tempo) Ih! A mãe tá falando alguma coisa.

Sem querer o analista deixa cair seu livro de anotações no chão. Silêncio. Alexandre pega. Não consegue deixar de ler o que está escrito.

Alexandre lendo: Eu queria estar em Grumari...Silêncio.

O analista estende a mão para pedir o livro de volta. Alexandre tenta entender, mas nada fala.

Alexandre: Cem reais. Cem reais e eu poderia comprar o meu apartamento. Eu nunca tinha reparado no meu vizinho e no tempo de nove andares eu confiei nele. Cem reais. (tempo) Peraí. Peraí. Aconteceu alguma coisa. Ele não tá mais rindo. Acho que a mãe dele brigou com ele. Ele ta com uma carinha triste... A mãozinha tá pra fora da janela.

Analista de repente fala: Com licença eu preciso ir ao banheiro.

Alexandre: Claro, imagina.

O analista levanta, deixa o livro na cadeira. Alexandre tenta ler de soslaio, mas não consegue, chega mais perto, tenta ler algo.

Alexandre lendo: Lá em Grumari o sol brilha mais forte...

Ele sente dificuldades para ler e acaba pegando o livro. Lê baixo, pra si mesmo.

Alexandre lendo: Lá me Grumari tem muito espaço para correr e deixar o vento bater nas têmporas... Nas têmporas? Eu queria estar em Grumari. Que porra é essa?

Ele percebe que o analista está voltando, deixa o livro na cadeira e volta para o seu lugar.O analista volta a sentar. Silêncio.

Analista: E?

Alexandre: E...

Analista: E o que você estava dizendo?

Alexandre: Ah! Sim, é... Bom, é...Ah! Então, eu dei cem reais para o meu vizinho, cem reais e ele me disse que ia me dar o produto em uma semana que dentro dessa semana...(tempo) Ah, não! Ah, não! Ele tá chorando, o menino tá chorando! Cadê a mãe dele que não tá mais lá? O que aconteceu, gente? A boca dele ta se abrindo...A boca dele...

Alexandre imita o menino com a boca abrindo.

Alexandre: Cem reais, entende? (Imita o menino) Cem reais e o filho da puta me disse que eu ganhar novecentos reais, assim que ele me disse os produtos para eu vender, e chamar mais alguém para...(imita o menino) Mais alguém para comprar os meus produtos por cem reais e eu ia virar uma espécie de...(imita o menino) espécie de gerente... O filho da puta... (faz uma careta bem feia, imitando o menino) O filho da puta me fez dar cem reais.

O analista espirra.

Alexandre: Saúde. (tempo) Já aconteceu com você?

O analista não responde.

Alexandre: Já aconteceu com você? Você estar num dia bom, acordar bem contente, sabe? E um filho da puta perceber isso? Você já deu cem reais na mão de um desconhecido num dia bom dentro de um elevador? Você já fez isso?

Silêncio.

Alexandre: Então, eu que perguntei. Já fez isso?

Silêncio.

Alexandre: Ih, o menino não tá bem. Ele tá com uma cara esquisita, parece que vai vomitar...

Silêncio.

Alexandre: Depois desse dia, eu nunca mais consegui dormir, nunca mais. Passei a sonhar todos os dias com esse maldito vizinho. E o pior. Ele sumiu. Não mora mais no meu prédio. O filho da puta fugiu com os meus cem reais. Mas se eu pego. Ah! Se eu o pego. (tempo, ele vê o menino) O que é que está acontecendo com esse menino? A cara dele tá toda vermelha, parece que vai explodir.

O analista começa a fazer uns sons estranhos com a boca. Silêncio.

Analista: E?

Alexandre: “E” o que?

Analista: E o que mais?

Alexandre: “Mais” o quê?

Analista: Você estava dizendo que parece que vai explodir.

Alexandre: Não, eu não. O menino.

Analista: Sei...

Alexandre: “Sei...” o quê?

Analista: O seu menino.

Alexandre: O meu menino?

Analista: O seu menino interior.

Alexandre: Não era disso que eu estava falando.

Analista: Não?

Alexandre: Não desse menino, mas de outro menino.

Analista: Que menino?

Alexandre: Aquele menino.

Analista: Sei...Continue.

Alexandre: Continuar o quê?!

Analista: Continue, por favor.

Alexandre: Bom, depois daquele dia...

Analista: Um momento.

Ele sai. Alexandre pega o caderno de notas.

Alexandre lendo: Eu queria estar em Grumari, eu queria estar em Grumari, eu queria estar em Grumari...

Volta o analista com um boné e óculos escuros

Alexandre: O que é isso?

Analista: Continue.

Alexandre vê o menino na janela

Alexandre: Ah, meu deus! Ah, meus deus! O menino! Ele tá subindo numa cadeira, ele ta subindo no parapeito da janela. Ele ta me olhando. Olha pra ele, ele ta me olhando, eu sei que ele tá me olhando!

Analista: E?

Alexandre: “E” o quê?

Analista: E você?

Alexandre: Não, não sou eu. É ele! Ele vai... A gente tem que fazer alguma coisa, aquele menininho ta querendo... Ta querendo... Ah, meu Deus!

Analista: Querendo o quê?

Alexandre: Porra! Aquele menino... Ele ta olhando pra mim. Caralho, ele ta olhando para mim.

Analista: Isso não é bom?

Alexandre: Bom? O que é que é bom?

Analista: O menino que tem dentro de você olhar para você?

Alexandre: E o senhor? Já olhou pra você?

Analista: Você está tentando fazer uma transferência...

Alexandre: Não, eu estou falando dele! O menino da janela, olha ele! Eu vou lá.

Analista: Você está fugindo da situação.

Alexandre: Quem fugiu foi porra do meu vizinho! É isso que eu venho tentando te dizer!

O analista anota em silêncio.

Alexandre: Ta vendo? Ele está lá!

Analista: O seu vizinho?

Alexandre grita Alexandre: O menino, caralho!

Analista: O seu vizinho é um menino?

Alexandre: Ele vai pular, ele vai pular!

Analista: Não há menino nenhum!

Alexandre: Espera! Ah, meu Deus! Ele vai pular! Ah, meu Deus! Ele vai pular! Ah, meu Deus! Ele vai pular! Ele... Ele... Sumiu.

Analista: Não há menino nenhum.

Alexandre: Aquele menino. Ele estava lá. Eu vi. Olhando para mim. Eu vi!

Analista. Não há menino nenhum.

Alexandre: Mas eu vi...

Analista: E o vizinho?

Alexandre: O vizinho? Ele fugiu, o maldito...

Analista: Um momento.

Ele sai mais uma vez. Alexandre senta no lugar dele e começa a ler

Alexandre: Em Grumari, não tem sujeira, em Grumari não tem esgoto...

Analista volta vestido de roupa de praia, vê Alexandre sentado em sua cadeira e senta na cadeira de Alexandre.

Analista: Sim eu sei. Sou um babaca egoísta. É assim que todos me vêem, mas o que eu posso fazer se... Grumari é lindo! Grumari é lindo! Tem muito espaço e muito verde, muita mata. È lindo...(Ele olha para a janela) Ih! Tem um velho na janela!

Alexandre não fala nada.

Analista: Faz uns cinco anos que eu não vou à praia. Cinco anos. Você sabe o que é isso? Ele tá comendo alguma coisa, deve ser banana...

Silêncio.

Analista: Ele está olhando pra cá. Lá em Grumari tem muito espaço. O velho não tem mais alguns dentes. Acho que ele tá meio doente, coitado.

Alexandre não fala nada.

Analista: Ele está olhando pra cá, acho que ele quer dizer alguma coisa.

Alexandre não fala nada.

Analista: O que será que ele tá dizendo? Lá teme espaço. E cores, muitas cores. O que será que ele tá dizendo? Verde, azul, branco...Eu tenho sonhado com isso. È como o meu vizinho me dizendo... O que esse velho ta tentando me dizer?

De repente toca um despertador. Os dois se olham.

Alexandre e o analista levantam e trocam de lugar. O despertador continua tocando.

Analista: O seu tempo acabou. A gente continua na próxima sessão. Tá na hora.

Alexandre fecha os olhos. O despertador continua tocando. O analista vai chamá-lo.

Analista vai colocando de volta as roupas de trabalho: Você não ouviu? Tá na hora, Alexandre, tá na hora. Tá na hora Alexandre, tá na hora. Tá na hora Alexandre, tá na hora.

Alexandre acorda. Meio perdido.

Alexandre: O quê?

Colega de trabalho: Seu tempo de descanso acabou. Tá na hora, a reunião já vai começar. Ah, sua mulher ligou dizendo que seu filho caiu na escola e você não tem dado a menoir atenção à ele, e pediu pra você não esquecer de levar seu avô no médico que ele piorou. Sua consulta no analista foi marcada para as 18 horas. Ah, e seu vizinho ligou perguntando se você já depositou os cem reais na conta dele?

Alexandre levanta atordoado e vai indo embora.

Colega de trabalho: Aonde você vai?

Alexandre: Grumari. Desmarca tudo. Eu vou pra Grumari.

FIM

sábado, 15 de novembro de 2008

O Mundo

Se o mundo fosse uma grande bola de neve derreteria em minhas mãos em um segundo. Não pelo calor das palmas, mas pela pequeníssima grandeza da esfera. Desde que o mundo gira, o tempo opta. E o tempo topa com o topo do mundo girante. Como se ainda bastasse passar.
Essa ardência me cabe e me emana. Me rasga a pele. Me arde insana. Proíbo-te de proibir-me. Entorpece-me o encanto.
Leito manso em regaço híbrido. Marejar de pensamentos. São é o sentir infame dos muitos a inflamar.
Tempos de remotos vãos. Devaneios.
Vão sem vela os barcos a motor. Vão inerte entre o braço e o tambor.
Bate coração que o tempo não espera a volta ao mundo! Não a volta inteira. O mundo a terçar no tempo que intervém no mundo a rodopiar. Devaneia de mansinho e mudo que o tempo escuro há de ocultar o mundo do obscuro mundo a devanear. Peripécias de prosador.
Invente um tanto que aumente um ponto, sem negligência. Inteligência é para guardar. O tempo interage vil. Além do fogo queimante, não há o que esperar. O giro contínuo e tênue tem quatro extremos em cada mil. Vagante sereno e veemente, o quanto aumente tentar amar. Se queima o fátuo se arma em ato o devanear. Assim acaba o espetáculo.
E o mundo que se exploda!


Renata Gabriel
14/11/2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

?

O QUE MUDA
quando
a
liberdade
SANGRA
?


Renata Gabriel
04/11/2008

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

IMAGENS

Eu não sei o que eu posso
o que eu quero
quando encontro
o passo
o tombo
o encanto
aprisionado
amarrado
engarrafado
e lúcido
tonto
e burro
nulo
num ruído insano
fluido
virgem
encantado
donde surjo
sujo
incompreendido
imóvel
preso
nas artimanhas malditas
da inócua vida
partida
e ilusionada
perdida
quebrada.

E então grito
E então choro
E então calo
E morro.

Mas antes de morrer eu queria dizer...


Renata Gabriel
24/10/2008

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

RESUMINDO

Num conta gotas
O mundo pinga
Em prantos
Caídos

Lugar
Palavra
Tamanho
Memória
Camada
Instante
Presente
Contínuo

Aprisionado num estado ameba

Memória não adormece
Rememoria

Não existe um lugar onde se começa
Não existe um lugar onde se termina
O lugar acontece a cada
tempo
escolha

Não há pacto para sempre

Tudo te ativa
Tudo te modifica

Não se reorganizar
Se desorganizar
Entrar no risco

É bom

Escuta

Não seja fiel o uma idéia

Tudo tem a mesma importância.

Renata Gabriel
10/10/2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

RECORTE

Eu trago a questão do EU quando eu não sou mais eu e sim o outro.

O que você está pensando?

Não existe controle.

E o que muda quando algo muda?

Encontro de corpos tortos
Entranhados na estranheza
Dum coletivo individual
Um único corpo
Num corpo dividido

Como eu falo algo que eu não posso falar?

Quando todos são tudo
E o todo nada
Tudo é pouco

O coletivo não é caótico e turbulento sempre
Às vezes é excesso, mas não só
O vazio é preenchido de si
Para que todos nós estejamos, mesmo quando não estamos

Teatro é um recorte
Do que não está pronto.


Renata Gabriel
09/10/2008

JANELAS

(Num prédio de uma rua qualquer.)

Janela 1
(Fernanda e Cíntia estão se olhando.)

Cíntia: O que é que você tá pensando?

Fernanda: To achando tudo melhor que a minha blusa hoje.

Janela 2
(Luciana está tentando empilhar cadeiras. Ana olha)

Ana: O que é você tá pensando?

Luciana: Essa cadeira não tá encaixando.

Janela 3
(Estela está angustiada. Ricardo está cortando a unha do pé.)

Ricardo: O que é que você tá pensando?

Estela: Tô pensando por que você não consegue falar sério comigo.

Janela 4
(Joana está colocando seu tênis All-Star. Maria está olhando.)

Maria: Por que eu não sou amada do jeito que eu gostaria de ser amada?

(Joana não responde.)

Janela 1

Fernanda: Você não quer ir lá pra minha casa?

Cíntia: Eu não sei.

Fernanda: Não gostou da minha pergunta?

Cíntia: Não é isso. É que eu não sei mesmo.

Fernanda: Então vamos lá pra casa.

Cíntia: Você sabe o que você quer?

Janela 2

Ana: Você não vai me responder?

Luciana: Quem sabe se a cadeira 8 entra na 9?

Ana: Posso ajudar?

Luciana: Não, a cadeira 8 não entra na 9.

Ana: Você não vai olhar pra mim?

Luciana: Mas quem sabe a 9 entra na 7?

Ana: Eu só vou sair daqui quando você conseguir.

Janela 3

Estela: Fala sério comigo, Ricardo.

Ricardo (cortando as unhas do pé). Tá bom aqui... assim...

Estela: Mentira! Mentira!

Ricardo: É agradável.

Estela: Mentira!

Ricardo: Confortável...

Estela: Eu tô esperando.

Janela 4
(Joana não consegue calçar o seu All-Star.)

Maria: Hein? Não vai me responder? Por que eu não sou amada do jeito que eu gostaria de ser amada?

Joana: Tá difícil de calçar esse sapato.

Maria: Responde! Por que eu não sou amada do jeito que eu gostaria de ser amada?

Joana: Não quer entrar.

Maria: Responde, porra!

Janela 1

Fernanda: Eu só sei que to achando tudo melhor que a minha blusa hoje.

Cíntia: Isso você já falou. E o resto?

Fernanda: Que resto? (Elas escutam uma voz de fora, de uma vizinha do prédio. elas param para escutar)

Voz: Eu quero sair daqui, eu quero sair daqui!

Janela 2

Ana: Eu tô esperando.

Luciana: Acho que a cadeira 3 encaixa na 4.

(Ana apaga a luz. Luciana não reage. Continua empilhando)

Luciana: Encaixa. Pelo menos a 3 encaixa na 4

(Ana acende a luz. Luciana não reage. Continua empilhando)

Luciana: Por que a 8 não encaixa na 9?

(Ana coloca uma música bem alto.Luciana não reage. Continua empilhando)

Luciana: Deve ter alguma coisa errada...(Elas escutam uma voz de fora, de uma vizinha do prédio. Ana pára.)

Voz: Eu quero sair daqui, eu quero sair daqui!

Janela 3

Estela: Por favor, faz alguma outra coisa.

Ricardo: Por quê?

Estela: Por quê? Eu não sei .

Ricardo: Então não.

Estela: Vai ter alguma vez que você vai conseguir falar sério comigo? (Eles escutam uma voz de fora, de uma vizinha do prédio. eles param tudo para ouvir.)

Voz: Eu quero sair daqui, eu quero sair daqui!

Janela 4

Maria: Hein? Responde. Por quê?

Joana: Existem tênis mais fácies de colocar do que esses?

Maria: Fala!!!

Joana (fala bem baixo): Sai daqui, Maria.

Maria: Hein? Não ouvi. (Elas escutam uma voz de fora, de uma vizinha do prédio. Elas param tudo.)

Voz: Eu quero sair daqui, eu quero sair daqui!

Janela 1

Fernanda: Ouviu? Ela quer sair.

Cíntia: E você?

Fernanda: Eu o quê?

Cíntia: O que você quer fazer?

Fernanda: Quer saber? Eu não sei mais se quero mesmo que você vá para a minha casa.

Cíntia: Viu?É por isso que eu não entendo você.

Fernanda: Entende o quê? Entende o quê? Não tem nada pra entender!

Cíntia: Não tem?

Janela 2
(A música está bem alta.)

Ana: Ouviu? você ouviu?

Luciana: Eu não entendo por que não ta encaixando... Eu tô tentando encaixar...

Ana(tira a música): Será que você não percebe ?

(Silêncio. Luciana olha para Ana. Ana fica esperançosa. Luciana volta a empilhar as cadeiras.)

Ana: Que merda! Que merda! (silêncio) Você não ouviu nada, né? Você não sentiu nada.

Luciana: Por quê?

Ana: “Por quê” o quê? “Por quê” o quê?

Luciana: Por que as cadeiras não conseguem encaixar?

Ana: Merda!!!!

Janela 3
(Estela vai abraçar Ricardo)

Estela: Ouviu? tem alguém querendo sair...

Ricardo: Gostei .

Estela: De quê?

Ricardo: Tá bom o seu carinho.

Estela: É?

Ricardo: Eu gosto.

Estela: Saco!

Ricardo: O que foi?

Estela: Não consigo.

Ricardo: Por que tudo pra você tem que ser grande?

Estela: E por que você não fala sério comigo?

Ricardo: Continua me fazendo carinho.

(Estela faz carinho nele.)

Janela 4

Maria: Ouviu? Tem gente que fala alto lá fora.

Joana (falando baixo): Sai daqui, Maria.

Maria: Hein? Fala alto!

(Joana pega seu All-Star e joga em Maria.)

Joana: Sai daqui, Maria!!!

Maria: Fala alto Joana! Fala alto!

Joana(atirando seu All-Star com força): Sai daqui, Maria!

(Maria desce as escadas do prédio, vai para o meio da rua e grita para Joana)

Maria: Hein, Joana? Fala alto! Vai, me responde! Por que eu não sou amada do jeito que eu deveria?

Joana (da sua janela): Sai daí, Maria!!

Janela 1
(Fernanda e Cíntia ouvem Maria gritando lá de baixo.)

Maria: Hein, Joana? fala alto! Vai, me responde! Por que eu não sou amda do jeito que eu deveria?(Elas olham pela janela.)

Cíntia: Tem uma louca lá em baixo.

Fernanda: Eu vou lá.

Cíntia: Você vai me deixar aqui sozinha?(silêncio)

Fernanda: Vou.Cíntia: Mas eu não ia para a sua casa?

Fernanda: Falou bem. Ia.

(A janela 1 se fecha.)

Janela 2
(Ana e Luciana ouvem a voz de Maria na rua.)

Maria: Hein, Joana? Fala alto! Vai, me responde! Por que eu não sou amada do jeito que eu deveria?
(Ana sai correndo para ver, mas Luciana continua empilhando as cadeiras.)

Ana: E agora? você ouviu? Você ouviu?

Luciana: As cadeiras 1,2, 3 e 4 já estão empilhadas, mas a 8 não quer mesmo encaixar na 9.

Ana: Merda! Olha pra mim, olha pra mim!

(Luciana olha para Ana.)

Ana: Você quer mesmo encaixar essas cadeiras?

(silêncio)

Luciana: Não sei.

Ana: Deixa eu te ajudar?

Luciana: Não sei.

Ana: Deixa não saber.

(Ana coloca uma música. As duas dançam. A dança das cadeiras. A Janela 2 se fecha.)

Janela 3
(Ricardo e Estela escutam a voz de Maria lá de baixo.)

Maria: Hein, Joana? fala alto! Vai, me responde! por que eu não sou amada do jeito que eu deveria?

(Estela pára de fazer carinho em Ricardo e vai até a janela.)

Estela: Viu? Viu? Isso é uma grande coisa, não é?

Ricardo: Por que as coisas pra você tem que ser grandiosas?(Silêncio)

Estela: Corta as minhas unhas.

Ricardo: Vem aqui.

(Estela vai até ele, ele começa a cortar as unhas dela.)

Estela (se afastando): Eu não consigo. Desculpa.

Ricardo: Calma, tudo bem.

Estela: Fala sério comigo, Ricardo.

Ricardo: Tá tudo bem.

Estela: Eu vou embora.

Ricardo: Antes me faz um cafuné.

(Estela fica angustiada, mas acaba fazendo um cafuné em Ricardo.Fecha a Janela 3.)

Janela 4
(Joana na janela chamando por Maria.)

Joana: Maria, tá maluca? Sai daí!

(Maria lá da rua, no meio dos carros.)

Maria: Hein Joana!!! Por que??? Me responde! Por quê? Por que eu não sou amada do jeito que eu deveria ser amada?

(Maria começa falar com todo mundo na rua. Joana fecha a janela 4 e desce para encontrar Maria.)

Joana (do outro lado da calçada): Sai daí, Maria, você pode se machucar!(ela correm em direção à Maria. Maria foge)

Maria (correndo, todos na rua olha para ela): Não vai me responder? Por quê?

(Aparece Fernanda e corre até Maria)

Fernanda (para Maria): Você acha minha blusa bonita?

Maria(para Fernanda): Por que eu não sou amada do jeito que eu gostaria de ser amada?

Fernanda: Você quer ir lá pra minha casa?

Joana: Maria, volta pra casa comigo!

Maria: Eu vou pra casa dela!

(Cíntia abre a sua janela e grita para Fernanda)

Cíntia: Fernanda, eu vou!! Eu vou com você!!!

Fernanda: Primeiro em diz o que você está pensando!

Cíntia: Eu ainda não sei!

Fernanda: Então não venha!

(Fernanda sai correndo pela rua. Joana consegue agarrar Maria)

Maria: Por que, Joana? por quê?

Joana: Eu não sei, Maria. Eu não sei.

FIM.

De: Renata Mizrahi